Cuiabá completa 304 anos neste sábado (8) e a população vê de perto as transformações que moldaram a cidade. Ouvimos um verdureiro e um fotógrafo que, nos últimos 33 anos, trabalham nas ruas da capital calorosa, onde construíram suas famílias e suas fontes de renda, e testemunharam as mudanças do município.
De uma caixa de poncã, José Aparecido Miranda, de 72 anos, começou a montar o carrinho de frutas que vende no coração da capital, no Centro Histórico, próximo à Praça Alencastro. Desde que se mudou, em 1995, ele trabalha como verdureiro e viu toda a transformação pela qual a cidade passou nesses anos.
José vende frutas na capital
Para José, o segredo de passar décadas no mesmo lugar é a capacidade de se adaptar às mudanças da vida, mas de um jeito diferente.
“Sou igual passarinho. Se um cara vem cortar minha árvore, eu vou para outra. Não vou ficar chorando, eu caço outra. Acabou um tipo de mercadoria, eu vou atrás de outra e assim vou tocando, do jeito que a água vai, vou tocando o barco”, contou.
Toda a transformação que José testemunhou, hoje ele guarda como memória dos bons tempos, na esperança de ver a cidade aquecida novamente. Segundo ele, o coração da capital se tornou vazio.
“As coisas mudam, cai e levanta, mas eu espero que Cuiabá ainda seja uma cidade que tenha ânimo, que volte a ter alegria, que volte a ser acolhedor, igual já foi. Todo mundo queria morar aqui. Essas lojas aqui tem uma que não vende um real mais no Centro Histórico. É um coração vazio esse centro, mas com esperança de que volte a ter ânimo”, afirmou.
José Mirand vende frutas no Centro Histórico de Cuiabá desde 1995 .
Morador do Bairro Pedra 90, José sai de casa e pega as frutas na saída para Rondonópolis e, de lá, vai até o Centro Histórico, onde atua desde às 7h30 e segue até 19h. Nesse tempo, ele precisou trabalhar como ambulante nas ruas da capital até ser instituído os pontos específicos para cada vendedor de rua no município.
“Aqui já foi um tempo bom. Hoje, cada um tem o seu ponto de venda. Se algum fiscal chega, a gente mostra o documento”, disse.
Cuiabano de coração
O fotógrafo Aluísio Eterno Montalvão e os dois irmãos dele eram fotógrafos ambulantes e rodavam todo o Brasil, mas, durante o trajeto, a família passou por Cuiabá e nunca mais saiu. A oportunidade de mercado e o calor do coração cuiabano motivou os irmãos a abrirem a primeira loja de fotografia deles, em 1988, no Bairro CPA 4.
“Cheguei aqui [Cuiabá] em 83, junto com meus irmãos, e fiquei. Em 88 abri minha primeira loja em uma avenida que não tinha nem asfalto e, depois, mudei de lugar, que é essa loja onde estou até hoje”, contou.
Montalvão e os dois irmãos na loja que foi aberta em 1990 no CPA IV .
Montalvão conta que viu muitas mudanças acontecerem na região durante esses mais de 30 anos, inclusive na própria loja. Em 1990, o fotógrafo passou a administrar o local sozinho e mudou o nome de Cine Montalvão para Foto Montalvão.
“Não havia praticamente quase nada de comércio na rua. Só tinha casinhas de Cohab, assim como a minha loja. Quando comprei, era uma casa com dois lugares, bem pequena. Muita coisa muda, e isso não é ruim, nós só temos que aprender a nos adaptar, ter a capacidade de evoluir”, ressaltou.