A divulgação de um vídeo em que alunos de uma escola pública aparecem em contexto político gerou forte repercussão em Cuiabá. O episódio envolveu críticas direcionadas ao sistema municipal de ensino, mas trouxe à tona discussões mais amplas sobre os limites da atuação de gestores públicos, especialmente no que diz respeito à preservação da imagem e da dignidade de crianças e adolescentes. A polêmica não ficou restrita à esfera política, alcançando também órgãos de defesa de direitos e setores da sociedade civil preocupados com os impactos da exposição nas redes sociais.
A Defensoria Pública do Estado posicionou-se de maneira firme contra a conduta, destacando que qualquer debate sobre a qualidade da educação deve ser feito de forma responsável e sem comprometer a integridade emocional de estudantes. A nota emitida pelo órgão ressalta que crianças e adolescentes não podem ser vinculados a disputas partidárias, pois esse tipo de situação representa constrangimento e fere direitos fundamentais garantidos pela legislação brasileira. Para a instituição, a prioridade deve ser a proteção integral e o respeito, pilares básicos no trato com o público infantojuvenil.
A discussão ganhou ainda mais força pelo fato de o vídeo ter circulado em redes sociais, plataformas conhecidas por ampliarem a repercussão de conteúdos em pouco tempo. Essa amplificação torna praticamente irreversível a exposição, já que imagens e informações podem ser compartilhadas milhares de vezes em questão de horas. Assim, mesmo que a publicação seja retirada, os danos emocionais e sociais às crianças e adolescentes envolvidos podem permanecer. Esse é um dos pontos centrais levantados pela Defensoria ao condenar o episódio.
Outro aspecto destacado é a necessidade de diferenciação entre críticas legítimas à gestão pública e o uso de estratégias que podem colocar terceiros em situações vexatórias. A qualidade da educação é um tema que deve ser debatido em instâncias próprias, com base em dados, políticas públicas e propostas de melhorias, mas nunca à custa da imagem de estudantes. A partir desse princípio, o órgão reforça que a defesa de direitos deve caminhar lado a lado com o fortalecimento da educação como direito fundamental e livre de interferências político-partidárias.
O episódio também levanta questionamentos sobre a responsabilidade de agentes públicos ao utilizarem sua visibilidade em plataformas digitais. Ao expor estudantes em discursos polarizados, cria-se um ambiente de divisão e hostilidade que não condiz com a missão das escolas, cujo objetivo é promover conhecimento, integração social e respeito à diversidade. O uso político da educação, segundo especialistas, fragiliza a confiança da comunidade escolar e pode dificultar o processo de ensino e aprendizagem, que já enfrenta inúmeros desafios estruturais.
Além disso, a polêmica reacende a discussão sobre o papel das redes sociais como espaço de debate político. Embora essas plataformas ampliem a transparência e a comunicação direta entre governantes e a população, também carregam riscos quando usadas de maneira imprudente. A velocidade da disseminação de informações pode transformar casos isolados em grandes crises, especialmente quando envolvem menores de idade. Nesse contexto, a cautela no uso da imagem de estudantes torna-se indispensável para evitar danos duradouros.
A nota emitida pela Defensoria também reforça que a legislação brasileira estabelece claramente os deveres de proteção às crianças e adolescentes. Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente determinam que eles devem ser resguardados de qualquer forma de exploração, discriminação ou violência simbólica. Isso significa que, além de uma questão ética, existe também um aspecto jurídico que não pode ser ignorado, sob pena de responsabilização dos agentes públicos envolvidos.
O caso em Cuiabá, portanto, ultrapassa os limites de uma simples polêmica local. Ele abre espaço para uma reflexão mais ampla sobre a forma como a educação é tratada nos debates públicos e sobre a responsabilidade que autoridades possuem ao lidar com temas tão sensíveis. Mais do que discutir a qualidade do ensino, a situação mostra a importância de preservar os direitos das crianças e adolescentes, assegurando que o ambiente escolar permaneça como espaço de respeito, aprendizado e proteção.
Autor: Simon Smirnov